Mexilhão-dourado chega ao Rio São Francisco e ameaça a Amazônia

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Mexilhão-dourado chega ao Rio São Francisco e ameaça a Amazônia

A Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou requerimento para realização de audiência pública para debater a invasão do mexilhão-dourado na Bacia do Rio São Francisco, o qual provoca a obstrução de filtros de sistemas industriais e usinas hidrelétricas. A solicitação foi apresentada pelo presidente da comissão, deputado Gil Pereira (PP), no último dia 08/03/2016.

Originário da Ásia, o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) foi detectado na América do Sul em 1991 na foz do Rio da Prata, na Argentina. Nas décadas seguintes ele se dispersou pelas bacias do Sul e Sudeste do Brasil, prejudicando a fauna e flora aquáticas e instalações de captação de água e geração de energia.

Em 2015 foi confirmada sua presença no reservatório de Sobradinho, na Bahia, no Rio São Francisco, bem próximo de um dos canais da obra de transposição, trazendo o risco de a invasão se alastrar para a Amazônia.

Pesquisadores do Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras (CBEI), de Belo Horizonte (MG), que identificaram a presença desse molusco asiático em Sobradinho, Jacqueline A. Ferreira, Fabiano A. Silva e Newton P. U. Barbosa foram rebebidos pelo deputado Gil Pereira, na Assembleia Legislativa. O estudo conta com parceria da Cemig.

Os primeiros registros no Brasil ocorreram por volta de 1998, no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul. A principal hipótese acerca da invasão dessa espécie em nosso continente é que teria chegado por meio da água de lastro de navios mercantes, que é devolvida ao ambiente enquanto a embarcação é abastecida com mercadorias. Nos últimos anos as áreas invadidas se expandiram até o Pantanal Mato-grossense e o Triângulo Mineiro.

PREJUÍZOS

Esse pequeno molusco adere a praticamente qualquer substrato sólido, inclusive vidros, PET e teflon. Para diversas atividades humanas, a presença do mexilhão-dourado é sinônimo de prejuízos financeiros. Podem por exemplo se incrustar nos tanques-rede utilizados na piscicultura, prejudicando o fluxo de água entre os tanques e o rio, e eventualmente aumentando a mortalidade dos peixes.

Os moluscos podem também invadir estruturas industriais de captação de água, interrompendo atividades de irrigação e fornecimento de água, como já foi observado em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, e em Presidente Epitácio, em São Paulo.

Esses mexilhões invasores também se acumulam nos encanamentos de usinas hidrelétricas, causando o entupimento de trocadores de calor, provocando a parada das máquinas para manutenção e limpeza. Além disso, a decomposição de mexilhões mortos dentro de câmaras de passagem de água de uma usina hidrelétrica provoca liberação de gases que oferecem risco aos trabalhadores envolvidos com a limpeza das estruturas. Somados, os prejuízos causados por esse invasor nos últimos anos já são centenas de milhões de dólares, apenas no Brasil.

HIDRELÉTRICAS

Como consequência poderá ser verificado aumento de custos com a manutenção de usinas hidrelétricas nessas regiões e desequilíbrio e perda de biodiversidade.

O avanço do molusco é o resultado da ação do homem já que segue o curso de água onde está e só avança rio acima quando deslocado mecanicamente, seja nos cascos de embarcações ou por meio da piscicultura. Essas teorias podem explicar como o molusco passou da Bacia do Rio Prata, subiu pelos rios Uruguai e Paraná até chegar ao Grande, em sentido contrário ao deslocamento natural das águas.

Caso não haja barreira sanitária que impeça a sua proliferação, chegará à Amazônia. O mexilhão-dourado tem como característica principal se acoplar a estruturas firmes e se reproduzir de forma acelerada, formando rapidamente grandes colônias.

A espécie acaba afetando basicamente três áreas nas hidrelétricas: o trocador de calor, a tomada de água e a saída da turbina. Em todas essas estruturas há impacto com a perda de eficiência dos equipamentos. No trocador de calor, há a necessidade de limpeza mais constante; na tomada de água pode se fixar na grade dessa entrada e prejudicar o fluxo que gira o equipamento; já na saída da UG requer a paralisação da operação e a drenagem da turbina para a retirada manual da colônia ali instalada.

O setor já está atento às consequências da presença do mexilhão e procura se prevenir. Já são utilizadas tintas especiais para proteger estruturas onde há o potencial de a espécie estabelecer colônia. E ainda, o Ibama estuda autorizar o uso de soluções químicas no combate ao molusco, estando essa solução restrita a instalações industriais.

Quanto à presença do molusco nos reservatórios, a situação é mais complexa. A educação ambiental e a barreira sanitária poderiam desacelerar o avanço pelo País, onde estão reunidas as condições adequadas para seu desenvolvimento: a temperatura da água, a ausência de predadores naturais e a alta concentração de nutrientes nos rios.

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